segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

DESEJO UM 2012 DE MUITO AXÉ A TODOS E TODAS.

HERMENÊUTICA DO SALMO XXIII
(Enviado pelo amigo Oná Abyàse)



Osala é meu senhor e nada me faltara

Deitar-me faz nos verdes campos de Ososi

Guia-me pai Ogun mansamente nas aguas de Nana Buruque

Refrigera minha alma pai Obaluayie

Guia-me Yansa pelas veredas da justiça de Sango

E ainda que eu ande pelos vales da sombra e da

Morte de Omolu, Não temerei mal algum, pois

Zambi esta comigo

O cajado de Osala é meu guia na direita e na esquerda

Me consola minha mãe Osum

Prepara mesa farta de saude, vida e bençoes, o mãe Iyemonja

Exu e Pomba-gira afastem de mim os inimigos do caminha

Unge minha coroa com ori consagrado de Olorum

E o meu calice que é meu coração transborde com a pureza de Ibeji

E certamente, a sabedoria e maturidade de Osala estarão comigo por

Todos os dias de minha vida.


Àse ! ! !



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Vem aí "Madrugada, me proteja!!

É com muita felicidade que comunico a todos e todas que dia 18 DE JANEIRO, no Teatro Módulo em Salvador, estreia MADRUGA, ME PROTEJA! Um texto de Cuti, atuação de Thiago Rigaud e a direção?De Josiane Acosta.
Será minha primeira vez dirigindo um espetáculo. Ousadia? Não.
Vejo como um desdobramento e consequencia de um caminho que algum tempo venho trilhando, sempre disse que se fosse homem gostaria de fazer essa peça, mulher que sou busquei um ator a altura para representar essa grande obra de Cuti. Realmente tenho me emocionado e me envolvido muito com o trabalho, pois acredito no teatro negro que faço, vejo e estudo. É necessário estarmos na cena, interpretando bem e dizendo ao mundo que estamos aqui.


Somos negros, lindos, dançamos, cantamos, atuamos bem! E também: pensamos, fazemos política e produzimos bem. Produto da coletividade negra, da união de pessoas, do Grupo Iwá e da produtora Oxentê Tchê MADRUGADA, ME PROTEJA! Sairá do papel e ganhará vida nos Palcos de Salvador.

NÃO PERCAM NOSSA ESTREIA!
ACESSEM O BLOG DO ESPETÁCULO: http://www.madrugadameproteja.blogspot.com/

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

RESPOSTA DE CUTI A FERREIRA GOULLAR

Desdobramento texto de Ferreira Gullar  - Preconceito Cultural. “Cruz e Souza e Machado de Assis foram herdeiros de tendências européias: não se pode afirmar que faziam literatura negra…” – Folha de São Paulo (Ilustrada) de 03/12/2011.

por Cuti

Por conta da publicação, em quatro volumes, da Literatura e Afrodescendência no Brasil: antologia crítica, organizada pelos professores Eduardo de Assis Duarte e Maria Nazareth Fonseca, seja pela apresentação gráfica sofisticada da obra, seja pelo seu aporte crítico envolvendo profissionais de diversas universidades brasileiras e estrangeiras, a questão de ser ou não ser negra a vertente da literatura brasileira que compõe seu conteúdo tem trazido à tona manifestações que vão desde respeitosas e aprofundadas abordagens até esdrúxulos pitacos de quem demonstra sua completa ignorância do assunto, má vontade e racismo crônico. Neste último caso está o que publicou Ferreira Gullar, com o título “Preconceito cultural”, no caderno Folha Ilustrada, do jornal Folha de São Paulo, de 04/12/2011.
O autor do Poema Sujo, no qual compara um urubu a um negro de fraque, deve estar estranhando (estranheza é a palavra que ele emprega) que o negro não é uma simples idéia desprezível, mas um imenso número de pessoas, cuja maior parte, hoje, não come carniça, e que aqueles ainda submetidos à miséria mais miserável jamais quiseram fazer o trabalho daquela ave, e que se a “a vasta maioria dos escravos nem se quer aprendia a ler”, como diz ele, não é porque não queria. Era proibida. Há vários dispositivos legais e normas que comprovam isso. Havia uma vontade contrária. Há e sempre houve um querer coletivo negro de revolta contra a opressão racista.
Quanto a existir ou não literatura negro-brasileira, deixemos de hipocrisia. No mundo da cultura só existe o que uma vontade coletiva, ou mesmo individual, diz que sim e consegue vencer aqueles que dizem não. Foi assim com a própria literatura brasileira e os tantos ismos que por aqui deixaram seus rastros. Características, traços estilísticos, vocabulário etc, que demarcam a possibilidade de se rotular um corpus literário, no tocante à produção literária negra, já vem sendo estudados. Basta lembrar três antologias de ensaios: Poéticas afro-brasileiras, de 2002, com 259 páginas; A mente afro-brasileira (em três idiomas), de 2007, com 577 páginas; Um tigre na floresta dos signos, de 2010, com 748 páginas, além de outras reuniões de textos, estudos, dissertações e teses. Por outro lado, se Cruz e Sousa e Machado de Assis, como argumenta Gullar “foram herdeiros de tendências literárias européias”, e, portanto, “não se pode afirmar que faziam literatura negra”, o que dizer de Lépold Senghor e Aimé Césaire, principais criadores do Movimento da Negritude, embora herdeiros da tradição literária francesa? A literatura não é só resultado de si mesma. Só uma perspectiva genética tacanha desconheceria outras influências do texto literário, tais como a experiência existencial do autor, sua formação política e ideológica, o contexto social, entre tantas mais. Nenhum escritor é obrigado a reproduzir suas influências.
A maneira como o tal poeta cita o samba, a dança, o carnaval, o futebol é aquela que simplesmente aponta o “lugar do negro” que o branco racista determinou, um lugar que serviu de “contribuição” para que os brancos ganhassem dinheiro, não só produzindo sua arte a partir do aprendizado com os negros, mas também explorando compositores diretamente e calando-os na sua autoafirmação étnica. Basta inventariar quantos grandes compositores negros morreram na miséria. A essa realidade o poeta chama de: “nossa civilização mestiça”. Mas, pelo visto, a literatura, sendo a menina dos olhos da cultura, deve ser defendida da invasão dos negros. O escritor e crítico Afrânio Peixoto, lá no passado, deixou a expressão bombástica sobre a literatura ser “o sorriso da sociedade”. Gullar não pensa isso, com certeza, mas em seus pobres argumentos está a ruminar que a literatura não pode ser negra. Talvez sinta que a negrura pode sujá-la, postura bem ainda dentro do diapasão modernista que abordou o negro pelo viés da folclorização.
A esquerda caolha e daltônica brasileira sempre se negou a encarar o racismo existente em nosso país. Por isso andou e anda de braços e abraços com a direita mais reacionária quando se trata de enfrentar o assunto. Para ela, a mesma ilusão dos eugenistas, tipo Monteiro Lobato, se apresenta como verdade: o negro vai (e deve) desaparecer no processo de miscigenação. Para alguns cristinhos ressuscitados dos porões da ditadura militar e seus seguidores sobreviveria e sobreviverá apenas o operariado branco. Concebem isso completamente esquecidos de que a cor da pele e traços fenotípicos estão inseridos do mundo simbólico, o mundo da cultura. No seu inconsciente, o embranquecimento era líquido e certo, solução de um “problema”. Hoje, é provável que os menos estúpidos já tenham se deparado com as estatísticas e ficado perplexos. Gullar, pelos seus argumentos, se coloca como um representante da encarquilhada maneira de encarar o Brasil sem a participação crítica do negro. E, como é de praxe, entre os encastelados no cânone literário brasileiro, incluindo os críticos, não ler e não gostar é a regra. Em se tratando de produção do povo negro, empinam e entortam ainda mais o nariz. Devem se sentir humilhados só de pensar em ler o que um negro brasileiro escreveu e, no fundo, um terrível medo de verem denunciado o seu analfabetismo relativo a um grave problema nacional: o racismo, ou serem levados a cuspir no túmulo de seus avós.
Gullar  diz ser “tolice ou má-fé” se pensar um grande público afrodescendente como respaldo da produção literária negra. Será que ele algum dia teve em seu horizonte de expectativa o leitor negro? Certamente não, como a maioria dos escritores brancos. Isso, sim, é tolice, má-fé e, cá entre nós, uma sutil forma de genocídio cultural, próxima daquela obsessão de se matar personagens negros. E não adianta nesse quesito invocar um parente mulato como, em outros termos, fez o imbecil parlamentar racista Bulsonaro.
Antonio Cândido, em entrevista publicada na revista Ethnos Brasil, em março de 2002, com o título “Racismo: crime ontológico”, fazendo sua autocrítica relativa à sua omissão, por muito tempo, do debate sobre a questão racial, argumenta que o “nó do problema” estaria “no aspecto ontológico”, e prosseguindo: “está no drama, para o negro, de ter de aceitar uma outra identidade, renegando a sua para ser incorporado ao grupo branco.” Façamos um acréscimo ao que disse o consagrado mestre. A questão racial é um problema ontológico no Brasil porque diz respeito também ao ser branco, pois o debate sobre o problema enfrenta a ilusão da superioridade congênita do branco, que o racismo insiste em manter cristalizada na produção intelectual brasileira. Ele, o branco, tem o drama de ser forçado a aceitar uma outra identidade que não aquela de superioridade congênita que o racismo lhe assegurou, de ser obrigado pelo debate a experimentar a perda da empáfia da branquitude, descer do salto alto. Aliás, o sociólogo Guerreiro Ramos nos legou um ensaio elucidativo do assunto, intitulado “A patologia social do branco brasileiro”.
A produção intelectual não é tão somente uma exclusividade de brancos racistas, apesar de certa hegemonia ainda presente. Além de brancos conscientes da história do país, negros escrevem, publicam livros e falam não só de si, mas também dos brancos, dos mestiços e de todos os demais brasileiros. Quem não leu e não gostou dessa produção, em especial a do campo literário, já não está fazendo tanta diferença. A crítica binária,baseada no Bem X Mal, está enfraquecida. Um dos propósitos de seus defensores quando pensam negros escrevendo é o de tirar o entusiasmo dos filhos e dos netos daqueles que por muitos séculos lhes serviram a mesa e lhes limparam o chão e mesmo daqueles que ainda o fazem. A vontade coletiva negra está em expansão e não é só no campo literário. Assim, quando o poeta Ferreira Gullar diz que falar em literatura negra não tem cabimento, é de ser fazer a célebre pergunta: “Não tem cabimento para quem, cara-pálida?” A sua descrença no que chama de “descriminação” na literatura, crendo que ela não “vá muito longe” e gera “confusão” é o simples reflexo da baixa expectativa de êxito que a maioria dos brancos tem em relação aos negros, resultado dos preconceitos inconfessáveis, passados de geração para geração, para minar qualquer ímpeto de autodeterminação da população negra.
Para Aristóteles havia os gregos e o resto (os bárbaros). O branco brasileiro precisa superar este complexo helênico de pensar que no Brasil há os brancos e o resto (mestiços e negros). Tal postura é uma das responsáveis pelo descompasso da classe dirigente em face da real população. Certamente, essa é a razão de Lima Barreto, o maior crítico do bovarismo brasileiro, ainda ser muito pouco ensinado em nossas escolas. O daltonismo de Ferreira Gullar, advindo de um tempo de utopia socialista, hoje é pura cegueira. Traços físicos que caracterizam historicamente os negros não são
só traços físicos, como quer o articulista, mas representações simbólicas, por isso perfeitamente suscetíveis de gerar literatura com especificidades. Se o poeta não concebe negros possuidores de consciência crítica no país e as históricas particularidades de sua gente, devia fazer a sua autocrítica e não insistir na cegueira. Não dá mais para negar que a classe C está disputando também assentos no vôo literário, além dos bancos de universidades, nos shoppings e outros espaços sociais. E a população negra também faz parte dela. Quem não quiser enxergar vai continuar vivendo embriagado por esta cachaça genuinamente brasileira, produzida nos engenhos decadentes: o mito da democracia racial. Pena que alguns, de tão viciados, não largam a garrafa.
Luiz Silva (Cuti), escritor, doutor em literatura brasileira.
Fonte: Lista Discriminação Racial

Ferreira Gullar – Preconceito cultural
Cruz e Souza e Machado de Assis foram herdeiros de tendências europeias; não se pode afirmar que faziam ‘literatura negra’
De alguns anos para cá, passou-se a falar em literatura negra brasileira para definir uma literatura escrita por negros ou mulatos. Tenho dúvidas da pertinência de uma tal designação. E me lembrei de que, no campo das artes plásticas, em começos do século 20, falava-se de escultura negra, mas, creio eu, de maneira apropriada.
Naquele momento, a arte europeia questionava o caráter imitativo da linguagem plástica e descobria que as formas têm expressão autônoma, independentemente do que representem, ou seja, não é necessário que uma escultura imite um corpo de mulher para ter expressão estética, para ser arte.
As esculturas africanas, trazidas para a Europa pelos antropólogos, eram tão “modernas” quanto as dos artistas europeus de vanguarda, já que fugiam a qualquer imitação anatômica. Foram chamadas de arte negra não apenas porque as pessoas que as faziam eram da raça negra e, sim, porque constituíam uma expressão própria a sua cultura.
Não é o caso da literatura. A contribuição do negro à cultura brasileira é inestimável, a tal ponto que falar de contribuição é pouco, uma vez que ela é constitutiva dessa cultura.
O Brasil não seria o país que o mundo conhece -e que nós amamos- sem a música que tem, sem a dança que tem, criada em grande parte pelos negros.
Ninguém hoje pode imaginar este país sem os desfiles de escolas de samba, sem a dança de suas passistas, o ritmo de sua bateria, a beleza e euforia que fascinam o mundo inteiro.
Uma parte dessas manifestações artísticas é também dos brancos, mas constituem, no seu conjunto, uma expressão nova no mundo, nascida da fusão dos muitos elementos de nossa civilização mestiça.
Certamente, os estudiosos reconhecem que, sem o negro e sua criatividade, seu modo próprio de encarar a vida e mudá-la em festa e beleza, não seríamos quem somos. Mas teria sentido, agora, pretender separar, no samba, na dança, no Carnaval, o que é negro do que não é? E já imaginou se, diante disso, surgissem outros para definir, em nosso samba, o que é branco e o que é negro?
E, em função disso, se iniciasse uma disputa para saber quem mais contribuiu, se Pixinguinha ou Tom Jobim, se Ataulfo Alves ou Noel Rosa, se Cartola ou Chico Buarque?
Felizmente, isso não vai acontecer, mesmo porque, nesse terreno, ninguém se preocupa em distinguir música negra de música branca. O que há é música brasileira.
Mas, infelizmente, na literatura, essa descriminação começa a surgir. Não acredito que vá muito longe, uma vez que é destituída de fundamento, mas, de qualquer maneira, contribuirá para criar confusão.
Falar de literatura brasileira negra não tem cabimento. Os negros, que para cá vieram na condição de escravos, não tinham literatura, já que essa manifestação não fazia parte de sua cultura. Consequentemente, foi aqui que tomaram conhecimento dela e, com os anos, passaram a cultivá-la. Se é verdade que, nas condições daquele Brasil atrasado de então, a vasta maioria dos escravos nem sequer aprendia a ler – e não só eles, como também quase o povo todo -, com o passar dos séculos e as mudanças na sociedade brasileira, alguns de seus descendentes, não apenas aprenderam a ler como também se tornaram grandes escritores, tal é o caso de Cruz e Souza, Machado de Assis e Lima Barreto, para ficarmos nos mais célebres.
Cruz e Souza era negro; Machado de Assis, mulato, mas tanto um quanto outro foram herdeiros de tendências literárias europeias, fazendo delas veículo de seu modo particular de sentir e expressar a vida. Não se pode, portanto, afirmar que faziam “literatura negra” por terem negra ou parda a cor da pele.
Pode ser que os que falam em literatura negra pretendam valorizar a contribuição do negro à literatura brasileira. A intenção é boa, mas causa estranheza, já que o Brasil inteiro reconhece Machado de Assis como o maior escritor brasileiro de todos os tempos, Pelé como um gênio do futebol e Pixinguinha, um gênio da música.
Contra toda evidência, afirmam que só quando se formar no Brasil um grande público afrodescendente os escritores negros serão reconhecidos, como se só quem é negro tivesse isenção para gostar de literatura escrita por negros. Dizer isso ou é tolice ou má-fé.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

"NO PALCO RUTH DE SOUZA" É INDICADO NA CATEGORIA ATRIZ REVELAÇÃO

 DEPARTAMENTO DE ARTE DRAMÁTICA ONDE TUDO COMEÇOU:



A TRAJETÓRIA ARTISTICA DA ATRIZ RUTH DE SOUZA É REPRESENTADO NO PALCO EM 2010 POR DUAS JOVENS ATRIZES DA CIDADE DE PORTO (JOSIANE ACOSTA E LUCILA CLEMENTE), EM JUNHO DE 2011 ENTRA EM CARTAZ EM PORTO ALEGRE NO PROJETO TEATRO ABERTO COM KAYA RODRIGUES SUBSTITUINDO A ATRIZ JOSIANE ACOSTA QUE FOI MORAR EM SALVADOR. EM AGOSTO TIVEMOS A HONRA DE APRESENTAR O ESPETÁCULO NO RIO DE JANEIRO PARA A PRÓPRIA RUTH DE SOUZA, MOMENTO LINDO ONDE TONI EDSON FEZ UMA CANÇÃO QUE JÁ FAZ PARTE DO ESPETÁCULO.
E NO DIA 5 DE DEZEMBRO É INDICADO DUAS VEZES NA CATEGORIA ATRIZ REVELAÇÃO, ESTÃO CONCORRENDO LUCILA CLEMENTE E KAYA RODRIGUES, SEM SOMBRA DE DÚVIDA JÁ GANHAMOS O RECONHECIMENTO PELO TRABALHO.

Beijo grande e parabéns a nossa arte!

sábado, 26 de novembro de 2011

ALTO DAS POMBAS COMEMORA A CONSCIÊNCIA NEGRA


“CÁ DO ALTO DAS POMBAS CONTO VEM
PRA MOSTRAR QUE TODA CHAGA SE CORTA
MAROTAGEM, MOLEQUE TEM RESPOSTA
TÁ NA HORA DE OUVIR CÃO, PAU E PORTA
RESPEITO
VENHA PARTICIPAR NÃO SE CONTESTA
NOSSA COMUNIDADE TEM DIREITO
 DE MOSTRAR QUE É DE ARTE NOSSA FESTA”
(Canção feita por Toni Edson para apresentação de contos africanos no Alto das Pombas)

Gente amada,
Ontem no Alto das Pombas a Escola Nossa Sra de Fátima promoveu na praça da comunidade apresentações do Projeto Nossos Passos vem da África, muitas professoras e professores realizaram apresentações artísticas com suas turmas. A população compareceu e atenta observou a tudo.

O 5 ano C da Professora Ritinha teatralizou três contos de origem africana, pois ao longo de dois meses compareci a escola voluntariamente cerca de duas horas semanais e desenvolvi alguns jogos teatrais para que eles pudessem ter contato com a arte teatral e alguns exercícios de contação de histórias, nas últimas duas semana o grupo começou a encenar os contos africanos que foram lidos em aula e o resultado ontem foi o melhor possível, realmente emocionante!
 Não sou a favor do trabalho voluntario, acredito que é o governo quem precisa promover, fomentar a cultura em todas as comunidades, sou uma profissional, estudei, pago aluguel e preciso me sustentar. Entretanto, na situação de semi-desemprego que me encontrava e com um relativo tempo ocioso, diante do convite de Ritinha, resolvi abraçar a ideia por ver na professora o desejo de oferecer aos alunos uma educação além do quadro e caneta. Ainda existem pessoas que acreditam no poder de educação e o papel transformador da arte.

E assim, ontem 14 jovens do ALTO DAS POMBAS, comunidade que carrega e fama de violência e que neste mesmo ano foi pacificada pelo governo levou a rua a beleza da cultura africana, teve a lavagem da igreja, apresentação de semba, capoeira de saia, teatro e coral do EJA.








Posso dizer apenas que estou feliz e satisfeita, pois consegui fazer longe de minha casa algo pela comunidade da qual faço parte e que sempre desejei fazer lá em Porto Alegre no Campo da Tuca, mas faltou oportunidade. Tudo isso mostra que nossos passos não são em vão. Vi ontem jovens que andavam de cabeça baixa, com vergonha de expressar, vergonha de sorrir, cheio de poder e orgulho!

Ah, os meninos apresentaram os seguintes contos: "Abdu, o cego e crocodilo", "Os segredos de nossa casa" e "Omolu e a dança só"
Estou feliz, feliz!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

XX DE NOVEMBRO EM SALVADOR

GENTE:
ONTEM NA COMPANHIA DA AMIGA SOTEROPOLITANA CRISTIANE CONCEIÇÃO


PARTICIPEI DA MARCHA "TAMBORES DA LIBERDADE" A CAMINHADA SAIU DO CURUZU E FOI ATÉ O PELOURINHO, REALMENTE MUITO LINDO, ENERGIA, ALEGRIA, DISCURSO DOS MILITANTES DO MOVIMENTO NEGRO, O POVO PRESENTE.SABEMOS QUE NAS CONFERÊNCIAS NEGRAS NÃO SE VÊ ESSE CONTINGENTE DE PESSOAS, PORQUE MUITOS AINDA ACHAM QUE QUESTÕES POLÍTICAS SÃO SÓ PARA ALGUNS.

O ENGRAÇADO(TRISTE) DA CAMINHADA FOI A REPÓRTER DE UMA REDE DE TV FILIADA A GLOBO, PROCURANDO NO MEIO DA MULTIDÃO BRANCOS PARA DAREM DEPOIMENTO SOBRE A CONSCIÊNCIA NEGRA, PORQUE AINDA TEM UMA VISÃO QUE VEM DA CASA GRANDE A RESPOSTA DA SENZALA, VIVEM EM QUE SÉCULO? ERA UM MAR DE NEGROS E ELA NA SUA "INGENUIDADE" PROCURAVA TURISTAS QUE DEVERIAM OBRIGATORIAMENTE SER BRANCOS PARA DIZER QUAL A IMPORTÂNCIA DESSE DIA? DEPOIS DE ENTREVISTAR SUA TURISTA BRANCA, PORQUE NEGRO ELES GOSTAM DE FILMAR SORRINDO E SAMBANDO.


EM MEIO A PROTESTO DE ALGUNS ELA VEIO NA MINHA DIREÇÃO E PERGUNTA: DE ONDE VOCÊ? EU RESPONDO: DO RIO GRANDE DO SUL. ELA... ENTÃO TÁ: QUAL A IMPORTÂNCIA DESSE DIA? RESPONDI MUITAS COISAS O BARULHO ERA GRANDE, O CÂMERA NÃO TAVA QUERENDO ME FILMAR, AFINAL DE CONTAS O POVO ESTAVA CRITICANDO O TRABALHO DELES. LEMBRO QUE FINALIZEI QUE ERA IMPORTANTE AQUELE MOMENTO PARA CELEBRAR, MAIS DO QUE ISSO TOMAR AS RUAS E DIZER QUE O NEGRO EXISTE E ESTÁ CANSADO DE SER INVISIBILIZADO, QUEREMOS VER NEGROS NOS TEATROS, NAS TV'S, NOS GRANDES CARGOS, E QUE TEM NEGRO EM TODO CANTO DO PAÍS, PORTO ALEGRE, FLORIPA, CURITIBA...

AINDA ESTOU CANSADA DA CAMINHADA, MAS DISPOSTA A LUTAR, AGORA PRECISO TRABALHAR, POIS VEM AÍ "MADRUGADA ME PROTEJA" SOB MINHA DIREÇÃO. TEXTO NEGRO ( DE CUTI), ATOR NEGRO ( THIAGO RIGAUD), DIREÇÃO NEGRA (JOSIANE ACOSTA) E COM PRODUÇÃO NEGRA( DAIANE SILVA E FABRICIA BRITO).

BOA SEMANA A TODOS E TODAS!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O DIA 14- SALVADOR A CIDADE MAIS NEGRA FORA DA ÁFRICA

Aqui tudo sobre o negro, assim como em minha terra natal, só acontece, tem vez e voz no mês de novembro. Entrar em um Shopping center ou ligar a Tv me faz pensar que estou no Rio Grande do Sul. Ontem foi divulgada uma pesquisa onde consta que o negro soteropolitano ganha três vezes menos que o branco. Por quê será????
Aqui existe um grupo de Teatro chamado Bando de Teatro Olodum que faz um teatro negro com qualidade poética e estética, e consegue manter-se em cartaz quase o ano todo. Mas a cena profissional soteropolitana é branca. Agora o pelourinho é só festa em função da semana da consciência negra, shows e peças com entrada franca, quase tudo ao mesmo tempo, ainda não sei porque, quer dizer sei sim!
Aqui nesta mesma cidade acabei de assistir um belíssimo espetáculo, dirigido por Angelo Flavio "O DIA 14" onde o público é convidado a perceber de que forma a pólitica brasileira nos deixou de herança a margem. Traz a cena a personagem negra sem esteriotipos, não traz o riso crítico, mas um sorriso sensível em uma bela cena. Faz lembrar de nosso passado e refletir sobre presente e qual espaço desejamos no futuro que chegará sim a cada amanhecer...
Atores negros, forte presença cênica, voz e corpo muito bem colocados, iluminação envolvente, cenário essencial. Arte, arte crítica, arte boa, arte que deve ser vista. Alguem em Porto Alegre indica a Luciano Alabarse!
Assista "O dia 14" , ASSISTAM "O DIA 14"!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

HISTÓRIAS DE ÁFRICAS- dia 21 de novembro

Gente, foi realmente muito linda a apresentação ontem na Escola de Teatro da Ufba. Sabe quando tu vê um adulto dizendo, ahhh... igual criança quando termina algo que gosta? Foi assim nossa apresentação ontem, realmente muito linda e sensível.



Dia 21 de novembro vamos contar:


"Quem perde o corpo é a língua" e  " O demônio que engolia vida"- ambas recontadas por Júlio Emilio Braz

Que a arte de contar histórias continuem encantado crianças, jovens e adultos!

"As histórias que contamos
vem de África orais
semana que vem temos outras
outros começos, surpresas, finais"

Grande abraço a todos e aos meus companheiros do Grupo IWÁ: Fabricia Brito e Toni Edson.

domingo, 13 de novembro de 2011

HISTÓRIAS DE ÁFRICAS

Gente amada, meu blog tem andando meio abandonado... é que tem sido difícil com a rotina de trabalho dedicar um tempo a deixar boas palavras e informação por aqui. O tempo voa mesmo já estou em Salvador há dez meses e nesse tempo sempre teatrando e buscando um espaço para atuar e ser feliz.

Semana passada  EU e Fabricia Brito, minha companheira de casa e de grupo, apresentamos o nosso espetáculo de contos africanos chamado HISTÓRIAS DE ÁFRICAS no projeto ATO DE 4, realizado na Escola de Teatro da UFBA, toda a segunda-feira do mês DE NOVEMBRO, sempre às 19 horas e com entrada franca!

Amanhã, 14 de novembro, vamos contar as seguintes histórias:

 A VIÚVA VELHA- JÚLIO EMÍLIO BRAZ
OKIPIJA- SUNNY

Quem puder vem ver e ouvir HISTÓRIAS DE ÁFRICAS!
Um espetáculo do Grupo Iwá e com Direção de Toni Edson

"ASSIM COMO VAI A VIDA 
VAI A ARTE
E COMO VAI A VIDA?
VAI INDO"
(Oliveira Silveira)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"Teatro que te quero Negro"

Gente estou super feliz com as boas novas: O grupo Caixa-Preta de Porto Alegre, do qual faço parte, mas me encontro afastada por conta da distância física, afinal estou morando em Salvador. Vai retomar o espetáculo Hamlet Sincrético, será apresentado em Brasília no mês de novembro e em Porto Alegre em Dezembro. 
Fico feliz que Jessé Oliveira, Nina Fola, Vera Lopes, Glau Barros e todos os Caixa-Pretas que são artivistas estejam retomando aquele caminho de luz, que só arte verdadeira nos proporciona.

Porque teatro que te quero negro?
Deixo aqui algumas palavras escritas por fazedores deste Teatro Negro para explicar melhor:

"Como é de se supor, o teatro negro está relacionado à identidade cultural do homem negro, este pode ser compreendido a partir de uma visão cronológica, de análise e de perfomances, como um movimento constituido por representações espetaculares, obras encenações dramáticas negro-africanas- da origem e da diáspora. (...) Ao final, podemos ajuizar o teatro negro como teatro de vanguarda, sobretudo no sentido de que tem sua própria linguagem, que converge à centralidade do mito da cultura africana na sua origem e sua sobrevivência na diáspora, ou seja ao africanismo utilizado como discurso fundador da identidade do homem negro". (Julio Moracen- Revista Matriz)

" Na verdade, essa questão semântica é muito engraçada. Nos idos da década de quarenta, 1944, para ser preciso, eu fundei o Teatro Experimental do Negro no Rio de Janeiro, depois de tentar fundá-lo em São Paulo e não conseguir por falta de apoio, por falta de aderentes. Quantas pessoas vinham me aconselhar a que eu não fizesse isso, não pusesse no nome de meu teatro a palavra "negro", porque assim eu faria com que a iniciativa malograsse antes de ela se concretizar, de ser lançada. Eu ouvia num ouvido e saía pelo outro, porque realmente nesse ponto eu fui muito convicto; tinha que ser teatro negro, tinha que ser mesmo Teatro do Negro". Porque, olha, entidades com nomes despistadores já haviam muitos". (Abdias do Nascimento- Anais do I FORUM DA PERFOMANCE NEGRA)

Ser Caixa- Preta no Rio Grande do Sul não é fácil, mas é necessário. Quantas vezes já vi personalidades do Teatro Gaúcho dizerem: "Jessé tem que parar com esse negócio de teatro negro, teatro é teatro e ponto final, vai ser bem melhor pra ele". Será?

Depois dessas palavras elucidadoras sobre teatro negro, encerro com as palavras de Cuti que descrevem bem meu sentimento sobre a arte e o novo momento do CAIXA-PRETA:

PARA SE PRODUZIR BEM, É PRECISO PRODUZIR BASTANTE, PROFUNDA E PROGRESSIVAMENTE.

domingo, 25 de setembro de 2011

Do outro lado do Atlântico- Conhecendo Cabo Verde.

Amigos, de 12 a 18 de setembro estive em Cabo Verde, isso mesmo cruzei o atlântico(friozinho na barriga viajar tantas horas sobre o oceano!) e fiquei hospedada no hotel SODAD na ilha de São Vicente, cidade de Mindelo. Lá junto com Toni e Fabricia ministrei uma oficina de contação de história. Conheci pessoas lindas, me diverti e aprendi muito durante essa experiência. Aprendi o valor da amizade, aprendi a ouvir mesmo quando a vontade de falar é maior. Apresentei meu espetáculo de contos africanos “E se África” e pela primeira vez fiquei satisfeita com o resultado, trabalhando mais chegarei onde eu quero. E aonde quero chegar? O céu é o limite(brincadeirinha). Estou feliz por ter conhecido Cabo Verde, feliz por estar divindo a casa, segredo e amizade com minha parceira Fabricia Brito.
Sigo acreditando que com o nascer do sol a vida tende a melhorar!












Beijo, bom final de semana a todos!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

ENTREVISTA COM ANGELO FLÁVIO


ATO ARTE NEGRA REBELADA
Fórum Estadual de Performance Negra da BahiaAmanhã, sesta - 26de agosto, às 13:30 Escadaria do Gerônimo - Paço (Concentração)

Convite à leitura e sugestão de pauta:
entrevista exclusiva com o incrível ator, diretor teatral
e ativista do movimento social negro Ângelo Flávio!

Para ler a entrevista na íntegra, acesse:www.gramaticadaira,blogspot.com ou
Se alguém quiser reproduzi-la será lindo!Se quiser o arquivo-word pede aí que eu mando!

ATO “ARTE NEGRA REBELADA” / ENTREVISTA/ Ângelo Flávio/ Fragmentos

por Nelson MacaNum misto de respeito e admiração, alegria e comoção, conversei com o consagrado negro ator, diretor e ativista soteropolitano Ângelo Flávio. Às vésperas do ATO ARTE NEGRA REBELADA, que acontece amanhã (26/08/20011) no centro Histórico de Salvador, ele nos fala de sua condição e da sua arte na cultura local e nacional. Comenta as razões de ter convocado esse ATO de reflexão interna e tentativa de retomada de diálogo com a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Artista inquieto, ativista combatente e ser humano sensacional, Ângelo Flávio não perde a esperança e nunca deixa de lutar pelo que acredita.  Apesar de jovem, ele já aparece na nossa história como mais um caso de grandes artistas do teatro baiano e brasileiro injustiçado pelas políticas culturais que insistem em negar hostilizar ou simplesmente invisibilizar as produções artísticas com fundamentos e linguagens divergentes centradas em matrizes africanas e da diáspora negra. Mas toda a indignação de Ângelo Flávio, como as de outros que viveram e vivem seu negro-drama ao transitar na condição do “outro-estranho” pelo racismo brasileiro – popular e institucionalizado - se transforma em arte e rebeldia. Sempre. Nem elogios eloquentes nem prêmios da casa grande conseguem dobrar esse moço que, definitivamente, não nasceu para aceitar ser o “negrinho” que deu certo se, para ser aceito simbólica e materialmente (como ainda não foi), tiver que ser cordial, submisso ou então cego, surdo e mudo (aos dramas de sua comunidade) para se firmar e manter nas luzes da ribalta.  As amarras de seus pés, mãos e mente foram desfeitas pela sua compreensão da força e efetividade do movimento negro.  É comovente vê-lo falar da importância dos blocos afros e afoxés em sua adolescência. Não era de se esperar menos de alguém recebido com afeto familiar na própria casa de Abdias Nascimento, para um almoço que celebrava a alegria do encontro e, ao mesmo tempo, a continuidade da resistência do Teatro Experimental do Negro. Compartilhar lágrimas e risos pelo nosso povo tão violentamente tratado neste Brasil chamado Exclusão que herdamos historicamente foi o que aconteceu lá na casa do Mestre Abdias. E é que acontecerá no ATO ARTE NEGRA REBELADA. 

África - One People - One Love!!


Pergunta - Sendo um artista consagrado nos palcos da Bahia e do Brasil pelo exímio trabalho - de equilíbrio técnico, estético e ideológico – qual seria a seu ver essa falta de “amparo” que você e outros artistas do seu porte sofrem no Estado

Ângelo Flávio - Gentileza sua. Vou responder isso com uma pergunta. O que faz com que estados como o Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo contratem meu trabalho artístico e Salvador não? Eu nunca fui convidado para dirigir uma leitura dramática na terrinha. E isto é político!! O que penso e proponho artisticamente ameaçam o tráfico de influência e o clientelismo que imperam no setor cultural e sócio-econômico em nosso estado e poaís. Todos os meus espetáculos eu investi verba independente para produzi-los. Zigmunt Bauman está aí para elucidar a construção das redes e a liquidez das relações . Luto por uma rede que ainda está desassistida sócio-economicamente, e pago um preço alto por isso. O mundo parece me dizer não se pode lutar contra o sistema. Insisto e digo: me deixem ao menos sonhar.

Pergunta - Por que você optou por ser um artista “militante” mesmo sabendo o quanto essa escolha “atravanca” sua carreira artística

Ângelo Flávio - É o que me pergunto todos os dias. (risos) Acredito que seja espiritual. Eu fico profundamente mal quando vejo um mendigo, quando vejo a cara da fome e do abandono social. Quando vejo o futuro dilacerado nos olhos de uma criança. Eu vejo e o que vejo me dói, então eu grito. Meu grito é humano e minha ação que é militante. Nada me atravanca, estou em fluxo. Podem cessar o fluxo do acesso ao capital - como têm feito - mas não podem atravancar o fluxo da libertação, da emancipação da consciência. Acredito que do mesmo modo que houve uma organização para extrair do povo os seus direitos primordiais à vida digna, levando-os a miséria absoluta, temos o dever de nos organizar, para garantir uma vida cada vez digna para todos e todas indiscriminadamente.

Pergunta - O que representa a Arte Negra para a Bahia e como a Bahia tem tratado sua Arte Negra?

Ângelo Flávio - Precisamos fazer uma breve retomada histórica. Segundo Christine Douxami, os negros sempre estivaram presentes nos palcos dos teatros no Brasil, mas quando o teatro deixa de ser marginalizados, os negros começam a ceder lugar para os atores bancos pintados de preto. Aconteceu exatamente isso aqui, em salvador, em pleno século XX, num espetáculo do TCA.  Depois de Abdias Nascimento, com a criação do Teatro Experimental do Negro em 1944, o cenário tende a mudar. Abdias questiona o protagonismo negro em todas as esferas, para além da cena teatral, e fomenta grandes discussões acerca do teatro negro, da dramaturgia negra e das políticas para arte negra em geral. Thales de Azevedo relata a dificuldade dos negros em fazer teatro desde 1950 em Salvador, Ele afirma a contundente resistência cultural da cidade aos grupos negros com a inquestionável falta de apoio. A Escola de Teatro da UFBA surge em 1956, daí vemos emergir atores como Mário Gusmão em 1958 - na peça O tesouro de  Xica da Silva - e em 1959 , quando a Escola monta o Auto da compadecida de Ariano Suassuna é que Mário se destaca. Em 1971 Godi apresenta a mesma peça. Importante lembrar que na década de 70 o Brasil vivia uma organização contra a ditadura militar vigente, a burguesia questionava o imperativo do poder e nunca se preocupou em discutir as políticas reparatórias para a negritude escravizada. O teatro era o veículo para fomentação das discussões através da provocação estética, daí surgem grupos como o Teatro Negro na Bahia (TENHA/ 1969)  que foram considerados racistas pela imprensa e elite baiana; Palmares Inaron (1976), Grupo de Teatro do Calabar (1983), Quintamci (1994), Bando de Teatro Olodum (1990) , o CTP do SESI (1991) entre outros grupos que, assim como  o Coletivo Abdias Nascimento (CAN -2002), tiveram que resistir ao injusto confronto reacionário das elites baianas que detém o poder estatal e privado no estado. Então, O CAN é o primeiro grupo de Teatro Negro na Bahia, não sei se no Brasil, com formação superior - dentro da Escola de Teatro da UFBA. E isso é um avanço, mas se configura como atraso quando percebemos a ausência de apoio para que este sobreviva, criando mecanismos de pesquisas e registro da tecnologia teatral temática.

Pergunta - Só pra citar dois casos recentes: Luís Orlando da Silva agonizou no corredor de um hospital público e Neguinho do Samba teve seu último atendimento médico num postinho de saúde. Não dá nem para pensar o cinema e a música negra na Bahia recente sem destacar a presença de ambos! Existe alguma outra perspectiva de futuro para os artistas negros que optam pela base que não seja enlouquecer ou agonizar em praça pública como Mario Gusmão, Sérgio Participação e tantos outros?   

Ângelo Flávio - Temos o dever de pensar que SIM, pois do contrário morrerá em nós, toda e quaisquer prospecção de um futuro melhor para todos e todas. Para isto é preciso não deixar os nossos ideais morrerem com o colapso da individuação capitalista, cujo o “salve-se quem puder” pauta paradigmas egóticos que se contrapõe aos direitos humanos. Precisamos nos mirar nas nossas conquistas, para sonharmos as possibilidades de um futuro. Eu tenho fé!

Pergunta - O que é e o que pretende exatamente o ATO ARTE NEGRA REBELADA que acontece em Salvador na sexta feira, 26/08/2011?

Ângelo Flávio - É exatamente isso. É um grito de alerta ao estado e à sociedade civil, para não morremos simbólica e fisicamente. É um grito de beleza frente à barbárie banalizada. Estamos penando para re-existir frente ao massacre físico, simbólico e cultural do povo negro. É preciso um redirecionamento do olhar dos poderes públicos e da sociedade civil para com a produção artístico-negra da cidade. No carnaval temos os piores horários para o desfile, recebemos a menor verba e os menores incentivos da rede privada que reloca a verba pública para a cultura. Mas que Cultura? A cultura que as elites querem prestigiar, a cultura dos grandes camarotes, do Chiclete, de Ivete e outros etes. Na literatura, nas artes plásticas, na dança e nos teatros não há políticas públicas para garantir uma permanência de produção, mas paliativos sustentados a preços da miserabilidade artística. A falta de apoio estatal e privado (verba pública) para as Artes Negras promove uma falta de qualidade técnica e artística que atingem diretamente o povo baiano, gerando assim uma baixo auto-estima do povo negro, uma atrofiação cultural e morte simbólica da memória de um povo. 

Pergunta - Que experiência seu convívio com Abdias Nascimento lhe trouxe? 

Ângelo Flávio - A perspectiva de ser uma continuidade de um sonho possível! De amar fraternalmente a humanidade, assim como Gandhi e Mandela. Ele preparou um almoço especialmente pra mim, em sua casa no RJ, choramos juntos, lamentando os abutres que ainda sobrevivem sobre a fomentação da miséria alheia.

Pergunta - O que faria o inquieto Ângelo Flávio se sentir em equilíbrio com o mundo e com ele mesmo?

Ângelo Flávio - Vou montar um espetáculo falando sobre o nascer do sol !!!


CONTINUA...

Para ler na íntegra:
One People! One Love!!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

JORNALISTA GAÚCHO LANÇA LIVRO EM SALVADOR

Por Camila de Moraes

“Aqui neste convés, o nosso colega Marcelino recebeu 250 chibatadas, e nós fomos obrigados a assistir a esse espetáculo degradante. O baiano ainda se encontra recolhido ao seu beliche, com muitas dores e febre, mas devemos estar preparados para isso. (...) Custe o que custar, mesmo tendo que matar milhares de pessoas e deixar em ruínas a nossa capital, Marcelino Rodrigues Menezes será o último marinheiro chicoteado em um navio brasileiro”, trecho de João Cândido, o Almirante Negro.

No dia 26 de agosto de 2011 (sexta-feira) acontece o lançamento do livro João Cândido – A Revolta da Chibata, do jornalista, poeta e escritor gaúcho Paulo Ricardo de Moraes, na sede do Bloco Afro Ilê Aiyê, na Senzala do Barro Preto, Curuzu, na Liberdade, em Salvador, às 19h. A Roda de Diálogo terá a participação da jornalista Céres Santos do CEAFRO, programa do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) da UFBa.

A obra aborda a trajetória do Almirante Negro sob o comando da Revolta da Chibata, no dia 22 de novembro de 1910, no Rio de Janeiro, o extraordinário acontecimento político e social. O livro teve sua primeira edição lançada em 1984. Em 2010, a convite da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, em cumprimento da lei 11.645/08, foi reeditado, atualizado e revisado com intuito de ser distribuído gratuitamente nas escolas da rede municipal para discutir sobre o tema com alunos e professores da comunidade escolar, e assim conhecer melhor a sua história.

João Cândido nasceu em 1880, filho de cidadãos ainda escravizados, em Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, e morreu em 1969. O Almirante Negro, como ficou conhecido, foi o homem capaz de liderar uma revolta que sacudiu as bases da estrutura reacionária e ainda escravagista do Brasil. A literatura, através deste livro, tem como foco o resgate histórico, social e antropológico, sendo de suma importância para a vida social e pessoal, pois estimulam a formação integral do indivíduo, tornando-o capaz de criticar o mundo que o cerca.

A iniciativa, que conta com o apoio do Ilê Aiyê, da SEPROMI (Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Bahia) e do Sincotelba (Sindicato dos Trabalhadores em Correios da Bahia), é uma realização da empresa Oxente, Tchê! Comunicação e Marketing.

Sobre o Autor

Paulo Ricardo de Moraes, jornalista, escritor e poeta gaúcho, mais conhecido como baiano junto à comunidade negra. Trabalhou em diversos veículos da área de comunicação no estado do Rio Grande do Sul, como os jornais Zero Hora, Correio do Povo, e as rádios Guaíba, Pampa e Farroupilha. Atualmente trabalha na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Porto Alegre.

Em poesia publicou Negro Três Vezes Negro, com Jaime Silva e Ronald Tutuca e O Garçom e o Cliente, com Paulo Naval, além de EUNUCO, individual. Participou de várias coletâneas de contos nos Cadernos Negros de São Paulo. Em teatro escreveu a peça Carnaval, já lida publicamente.

João Cândido, biografia pela Editora Tchê e uma segunda versão deste livro publicada pela Secretaria Municipal da Cultura.

Na área audiovisual, dirigiu o vídeo Da Colônia Africana à Cidade Negra, que participou das mostras competitivas dos festivais de Salvador, Vitória, Cuiabá, e Havana (Cuba) e roteirizou os curtas metragens A Um Gole da Eternidade, Chic e Choc e O Velho e Bar.


Contato do autor
Telefone: (51) 92674857
E-mail: prbaiano@hotmail.com

Serviço
O quê: Lançamento do Livro João Cândido – A Revolta da Chibata, do jornalista gaúcho Paulo Ricardo de Moraes.
Quando: 26 de agosto de 2011, às 19h.
Onde: Senzala do Barro Preto/Curuzu, na Liberdade – sede do bloco afro Ilê Aiyê.
Entrada Franca mediante apresentação do convite que pode ser retirado no Ilê Aiyê.
Mais informações: (71) 8127-7035 / (71) 9194-6927
camila4p@hotmail.com

ARTE NEGRA REBELADA- VAI AS RUAS DIA 26 DE AGOSTO

Arte Negra Rebelada
Artistas da cidade de Salvador vão às ruas na próxima sexta-feira lutar contra o genocídio da cultura negra.

Acontece em Salvador, no dia 26 de agosto de 2011, o ato público Arte Negra Rebelada com artistas de diversos segmentos, como teatro, dança, música, além de representantes do movimento negro. A concentração ocorrerá às 13h30min, na escadaria do “Gerônimo”, no Pelourinho e segue até o Palácio Rio Branco, na rua Chile, em frente a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

Organizado pelo Fórum de Performance Negra da Bahia, que representa cerca de 35 grupos, entre Cias de Teatro e Dança Negros em todo Estado, junto a outros grupos e ativistas do movimento negro, o ato tem intenção de chamar atenção da sociedade civil e autoridades sobre a situação da arte negra no Estado e no país, no caso a ausência de políticas públicas efetivas para esta parcela da população.

A Arte Negra Rebelada, uma manifestação cultural que irá acontecer pelas ruas do Pelourinho, mostrará para a sociedade a sua cara preta, pois a arte também deve refletir a identidade de seu povo. Através de recital de poesia, música e dança, os artistas irão cobrar e propor ao Estado políticas públicas para a arte negra. Para que não aconteça um extermínio cultural é preciso dinamizar a cultura nacional, fortalecendo as identidades sem subordinar às diversidades. Para tanto, durante o percurso será lido um manifesto produzido pelo coletivo com dados concretos que afirma que o povo negro brasileiro está fora da cena, porém este povo existe e está pronto para o diálogo com as autoridades competentes e com a sociedade civil.

No contexto que se encontra o país, aproveitando que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu 2011 como o Ano Internacional dos Afrodescendentes e sabendo que Salvador é a cidade com o maior contingente negro fora da África com 87% de população negra, se faz necessário reconhecer a composição expressiva de artistas negros que aqui vivem e produzem trabalhos magníficos. Um exemplo desse não reconhecimento que é nos últimos 20 anos os grupos de formação negra do estado da Bahia que receberam incentivo do Estado para produção artística em teatro, ao longo de duas décadas, não ultrapassam o número de cinco. Por tanto, é necessário parar de inviabilizar as produções negras e valorizar esse trabalho feito com profissionalismo e amor disponibilizando todo o suporte que precisam.

Serviço
O Quê:Ato Público Arte Negra Rebelada
Quando:26 de agosto de 2011 (sexta-feira)
Onde:Concentração na escadaria de “Gerônimo”, no Pelourinho e segue até o Palácio Rio Branco, na rua Chile, em frente a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
Contato
Organizador do Ato:Diretor de Teatro e membro fundador do CAN - Coletivo Abdias Nascimento Ângelo Flávio– (71) 8882-4601 ou (71) 9111-4825
Assessoria de Imprensa: jornalista Camila de Moraes – DRT 14.833– (71) 8127-7035 ou (71) 9302-3921

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"No palco Ruth de Souza foi apresentado no Rio de Janeiro"

Gente, quem me conhece sabe que sou uma pessoa de correr atrás daquilo que acredito.
E foi assim que consegui pauta e hospedagem na casa Paschoal Carlos Magno para que pudéssemos levar nosso espetáculo a homenageada, todo os envolvidos custearam as passagens, alimentação e nos ajudaram a realizar este sonho. E assim passamos de 10 a 15 de agosto no Rio de Janeiro, no bairro de Santa Teresa onde apresentamos nos dias 13 e 14 de Agosto o espetáculo No Palco Ruth de Souza com a  presença da nossa grande Dama do Teatro Brasileiro, Ruth de Souza.
Foi realmente um momento lindo, experiência plena de sentido. Dona Ruth gostou do espetáculo, se emocionou e disse que só tinha a agradecer. Ficam as belas e sábias palavras: " Não se separem, não desistam, juntos podemos produzir muito mais".
Meu muito obrigada a Lucila Clemente(parceira de cena, ótima atriz e minha mana de coração), Toni Edson (Amigo, Orientador e futuro diretor do espetáculo), Thiago Rigaud (Iluminação), Vanessa Acosta(Operação de som), Juliana Acosta (Assistência de Produção), Diego Neimar (Projeção), toda a equipe técnica e funcionários da Casa Paschoal em especial ao técnico de iluminação Paulo e a administradora da Casa Paschoal Srª Norma Dumar.





"Se o sonho bater no seu peito escute
o rumo que a vida vai ter se discute
se arte te encanta e floresce, desfrute
se alguém desdenhar seu talento, relute
e se o tempo quer tempo para enegrecer
dado tempo que a negra permite
refaça e tempo e acredite
teus espaço te pede que lute
com passos firmes qual fez bela Ruth
atuou no TEN tem, tem, tem mais
investe e luta pelo próprios ideais
e disse para o mundo que o que ela queria da vida era ser feliz
consolida a grande carreira de atriz
persiste e vai
enfrenta e ousa
No palco queremos saudar Ruth de Souza"
                                   ( Canção feita por Toni Edson e incluída no espetáculo em 13 de agosto de 2011)