Gente como sabem continuo firme e forte na luta. Dando aula em esteio ou melhor, aprendendo a dar aula em Esteio. Criança é difícil, mas não impossível.
E na CUFA? É só sorriso no rosto e alegria no coração. Como é bom ver eles entusiasmados e já preocupados no como vai ser o ano que vem."Vai ter projeto o ano que vem Sora?". Respondo: "gente ainda faltam 10 meses para acabar o curso". Obrigado Mirna e Gilberto pelas orientações, sem vocês não estaria aqui! Sim esse ser que entrou na faculdade só atriz está se transformando e a cada dia ganha outra face, a de professora.
MAS VAMOS AO TÍTULO DA POSTAGEM!
Fui levar meus pupilos pra assistir um espetáculo, eles se encantaram! Sim o teatro era lindo assim como o cenário, figurinos, bonecos. A presença dos atores, o trabalho vocal nota 10. Mas, é sempre tem um mas...
Voltamos ao tempo do Abdias: ator branco pintado de negro. Porque será???? Pensei em várias respostas, mas prefiro não colocar aqui, falo pessoalmente. Tinha uma música com o seguinte trecho: "todo mundo é meio racista". Claro essa frase só fazia sentido se até o negro dissesse que também era meio racista, os demais personagens também afirmaram que eram meio racistas, eram eles: branco gordo e judeu, chinesa, gay, monstra e por aí vai...
Todo mundo é meio racista? Mas esse meio racismo se transforma em completa discriminação para quem? Música inocente? TEATRO É POLÍTICO E SEMPRE TRAZ UMA MENSAGEM!
Tá bom sou uma negra que vê problema em tudo, porque sou consciente, porque tenho cabelo crespo e muito cheio, uso verde limão, laranja, vermelho, porque fiz parte de um grupo de teatro negro, porque sou amiga de uma mulher negra super engajada. Ah, eu penso! Sim eu penso em tudo que diz respeito a minha cor. Confesso que não achei graça da cena. Ta bom, sei que tenho uma bagagem acadêmica, cultural, blábláblá, PORÉM meus alunos (negros e brancos), para quem dou aula apenas de teatro também não riram desta cena. Alguma coisa os afetava...
Então da Broadway direto para o teatro de rua que assisti ontem em canoas: um espetáculo que conta a Lenda do Negrinho do Pastoreio. Lindo trabalho vocal, corporal, estético, o jogo entre os atores era ótimo. Adorei. Seria perfeito se não me doesse tanto escutar as palavras, NEGRO, NEGRO SUJO, TOMA NEGRO. Tudo aquilo que desde a escola nos ensinam, os escravos que vieram da África! Como diz a amiga Maria da Conceição: “não conheço nenhum país na África que se chama escravolândia”!
Cada um com sua arte, história e ação. Por isso vou fazer a minha parte, sim tem coisas que cabe a nós ( ao Caixa-Preta, aos Crespos, Bando de Teatro Olodum, e eu, estrela solitária, hahahhahahha).
(Representando a ancestralidade- imagem do Baobá)
Estou dando início ao meu trabalho de contação de história, onde busco lendas de diferentes países africanos para levar do meu jeito a história de um povo lindo que construiu esse país no braço e que hoje seus descendentes estão aí, em sua maioria, marginalizados.
Voltando ao título:
Sem essa de mãe-preta e pai-joão
- eu quero é o passado bom!
Na vontade mais funda
e vulcânica de mim
eu quero é o passado bom!
Eu quero o passado bom
do quilombo dos negros
livres no mato e de lança na mão.
Da guerra na Bahia - da negrada
transbordando das casas,
derramando-se na rua
de pistola e facão!
Quero o passado bom dos negros
do quilombo do Cumbe,
mocambos do Pará,
dos Palmares reais,
dos quilombos gerais,
troço bom demais.
Só quero o passado bom!
(Oliveira Silveira)