Um homem como Abdias não morre-Conceição Evaristo

DIAS DE KIZOMBA
     Ab(dias) de lutas e não dias de luto.

         Um homem como Abdias,
         estrela incandescente,
         não morre.

         A sua luz
         cor negra zagaia
         feriu a branca inconsciência
         de uma democracia racial
         nula e vil.

         Um homem como Abdias,
         estrela Nascimento,
         Zumbi eternizado,
         não morre.

         A sua luta
         ziquezagueia
         d'África à diáspora
         espalhando sementes baobás
         em cada uma/um de nós.

                             Conceição Evaristo    /    Maio de 2011

Abdias foi e está.

Há dois dias conversavam com uma amigo e ele contava o quanto chorou ao saber da morte de um conhecido Griot que ele não teve a oportunidade de conhecer pessoalmente. Como poderia doer tanto a morte de um desconhecido? A notícia da morte trouxe uma certa ausência na vida deste contador de histórias brasileiro, que ao saber da notícia não conteve as lágrimas, pois aquele Griot que vivia lá do outro lado do oceano servia de referência, de inspiração. Nosso contador olhava-o com respeito, com admiração a sabedoria daquele homem que nunca conheceu fisicamente. Mas ele sabe da importância daquele homem sempre que conta uma história.

Hoje a notícia: morre Abdias do Nascimento, que também pessoalmente não tive a oportunidade de conhecer, e as lágrimas também rolaram em meu rosto. Mas sei que a existência de Abdias deu belo frutos que estão espalhado aqui, ali, por todo o país e em nossa consciência.

Estamos aqui de passagem, mas o que deixamos é perene.

"Há homens que lutam um dia, e são bons;


Há outros que lutam um ano, e são melhores;

Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;

Porém há os que lutam toda a vida

Estes são os imprescindíveis" (Bertold Brecht)

8 de Maio de 1945

Não esqueci da data de ontem, apenas não tive acesso a internet para parabenizar nossa grande atriz RUTH de Souza, que ontem completou 66 anos de carreira! Ela que foi a primeira atriz negra a pisar no palco municipal do Rio de Janeiro. Foi a estreia do Teatro Experimental do Negro. Não posso deixar de dividir a emoção que foi montar um espetáculo contando um pouco dos momentos da vida desta grande atriz, espetáculo este que volta em cartaz em Porto Alegre agora em junho. A emoção se estende a família, eu aqui em Salvador recebo a ligação de minha irmã mais nova quase chorando dizendo que Dona Ruth de Souza tinha ligado para agradecer a homenagem. Agradecida ficamos nós (Lucila e Eu) de levar o nome desta grande atriz para os palcos gaúchos.

Lucila e eu seguiremos tentando realizar o sonho de apresentar o espetáculo para a nossa Estrela negra, RUTH DE SOUZA!